Não é novidade que o Brasil está prestes a vivenciar uma verdadeira revolução na sua matriz de transportes. Haverá um impacto positivo em todos os setores da economia, mas sobre tudo no agronegócio. Num espaço de tempo relativamente curto, devem sair do papel uma série de projetos de infraestrutura ferroviária que vão cruzar as principais regiões produtoras de grãos. A logística agrícola mudará radicalmente–não só para o transporte de grãos, mas de outros produtos essenciais para a cadeia agropecuária, como fertilizantes, energia, produtos florestais e algodão, só para citar alguns.

Atualmente, cerca de 50% das exportações de soja e milho do Brasil são movimentados por meio das ferrovias. Essa parcela deve crescer para 65% em dez anos com os novos investimentos–sem os quais a tendência era de uma queda na participação para meros 30%.Em outras palavras, o reforço na infraestrutura ferroviária vai sacramentar nossa posição como potência agrícola tanto da porteira para dentro (algo já está bastante consolidado) como também para fora dela.

Ferrovias

Para o país é excelente–para os investidores a concorrência entre projetos precisa ser analisada com lupa!

Não há dúvida dos ganhos de competitividade que os investimentos nas ferrovias trarão para o Brasil, beneficiando o agronegócio. Mas é preciso considerar que alguns projetos podem concorrer pela mesma carga, impactando a expectativa de retorno financeiro dos projetos.

Projeta-se o investimento de aproximadamente 40 bilhões de reais na execução dos projetos ferroviários, mais os valores captados nos editais de concorrência pelas outorgas de operação. Isoladamente, a análise econômico-financeira de cada um desses projetos pode apresentar retorno atraentes–mas uma análise da operação conjunta de todos os investimentos revela riscos de mercado que não devem ser subestimados.

O planejamento dessa revolução logística baseia-se numa política pública cujo objetivo é estimular a concorrência e melhorar a competitividade da economia brasileira. Do ponto de vista operacional, no entanto, algumas questões precisam ser esmiuçadas para evitar riscos exagerados na análise dos planos de negócio. Eis alguns exemplos:

a) Certamente haverá concorrência por carga entre os principais projetos.

b) A concorrência pela carga implica em guerra de tarifas, o que pode comprometer o business plan do investidor/operador do projeto.

c) O transporterodoviário ainda mantém algumas vantagens operacionais sobre o ferroviário, a depender do produto, do fracionamento ou da localização, entre outros aspectos.

d) Os investimentos satélites aos projetos também demandam recursos consideráveis e precisam ter sua viabilidade avaliada.

Esses pontos de atenção – e muitos outros – vão exigir considerável estudo e avaliação. As novas ferrovias serão bem vindas para movimentar o agronegócio brasileiro e trazer mais competitividade para as nossas cadeias agrícolas. Todas essas boas expectativas só vão se concretizar, porém, se os riscos para os investidores e operadores forem devidamente avaliados e mensurados.

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